segunda-feira, 23 de maio de 2011

(4)

 "Nada é o que parece ser".

                      Diana Afonso


 Estranheza



 - Alô?
  Diana ao ouvir aquela voz, soube logo que era a mãe do Lucas.
 - Oi Tia Rô! Tudo bem, é Diana!
 - Oi Di! Querida, como você está?
  Diana ainda um pouco atordoada do pesadelo, tentou responder da melhor maneira possível.
 - Bem, tia, bem! E a senhora? Tudo em ordem?
  Alguns segundos de silêncio, e logo vem a reposta
 - Ah querida, nem tudo. Bruno fugiu de casa...
   Surpresa com a confissão da "tia", Diana tentou ficar calma e não pensar no pior!
 - Como assim tia? Onde ele foi?
 - Não sabemos Diana, ele simplesmente sumiu há duas semanas. Já falamos com a polícia aqui do Rio Grande do Sul, mas não tivemos notícias ainda. Creio que ele não está mais na região.

   Diana tentava colocar suas idéias no lugar. Primeiro, por que Bruno iria fugir? Segundo, para onde ele teria ido? Terceiro, será que estava atrás dela? Controlando a respiração, decidiu levar um papo "tranquilo" com a  mãe do Bruno, que estava estranhamente calma.

- Calma tia, tudo isso vai passar, vou ligar pra Polícia aqui da minha cidade e ver o que consigo. Vai que ele possa estar por estas bandas?
- Não!
  Rosemary gritou... sem perceber a burrada que havia feito tentou desculpar-se.
- Não Diana. Minha querida, não sabemos se ele quer ser encontrado dessa maneira, como um criminoso, procurado por policiais de dois estados. Não faça isso... Ele logo aparecerá, ok? Não se preocupe com isso.
  Ainda tentando esconder a mancada, Rosemary tenta ser afável com Diana.
- Vamos marcar qualquer dia desses para você vir aqui está bem? Mas agora preciso ir minha linda, tenho coisas a fazer nessa casa enorme!
   Riu um pouco...
- Ok tia, foi um prazer ter falado com a senhora novamente, depois de tanto tempo! Boa sorte com o Bruno, estarei torcendo para que tudo dê certo, um beijo!

  "Clanc", o barulho do telefone batendo no gancho finalizou aquela estranha conversa. Quanto tempo fazia que Diana não via a família de Lucas e Bruno? Tentou calcular... Mas foi impossível, simplesmente não estava conseguindo se concentrar. O fato de Bruno ter desaparecido estava enchendo sua mente. Achou que seria melhor descer e comer, pois já estava escutando sua barriga roncar!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

(3)

"Um lampejo de esperança é o que vale quando se está submersa na escuridão".

                                                                                            Diana Afonso


 Lembranças


 Chegando em casa, corri logo para meu quarto - pois sabia que se parasse na sala, meus pais iam me interrogar sobre meu dia - tirei os sapatos, fiquei apenas de meia. Deitada em minha cama, comecei a pensar o porque daquilo tudo está acontecendo. A cabeça girava, pensamentos misturados, flashs da minha vida na escola, minhas antigas amizades. Nada fazia sentido...
 Finalmente dormi.

 -Vai Lucas, pára, me dá essa bola! Não tem graça! 
 -Ah Di, deixa disso vai... Como você é criança, a gente não pode nem brincar com uma bola que você já acha que vamos nos machucar! Caramba, tá parecendo minha mãe!
 -Estou longe de ser sua mãe, apenas não quero ver nenhuma desgraça acontecendo nessa rua... é difícil entender isso?!
 -Lucas? Lucas!
 -Ah Di, vou embora, você não sabe brincar!
 -Calma Lucas, espera os carros passarem, esse horário passam muitos por nossa rua, espera Lu...
 Sirenes de ambulância tomam conta do local, pessoas formam um paredão humano em volta do garoto estendido no chão. Ouve-se muitas pessoas cochicharem sobre o acidente, mas ninguém ousa dizer de quem foi a culpa. 
 - Diana! Menina, o que aconteceu? O que houve?
 - Nada mãe, eu apenas disse... eu... 
 - Não chora filha, tudo bem, tudo bem, estou aqui com você.


 Em um pulo, Diana levanta da cama com a mão no lugar do coração. A respiração acelerada, suada e confusa. Por que estava sonhando com a morte do amigo de infância? Não se sentia culpada, mas sempre enchia os olhos d'água quando lembrava do Lucas. Um amigo tão leal, brincalhão e sincero; só um pouquinho levado, mas isso ela tirava de letra. Só no bendito dia do acidente, ela não pôde frear o amigo, era tarde demais.
 No mesmo dia do acidente, o irmão do Lucas, Bruno, tentou se matar... foi uma barra para a família deles. Não se sabia qual motivo teria levado o irmão mais novo do Lucas a cortar os pulsos. Talvez por ser muito apegado ao irmão, Bruno decidiu não viver mais sem seu companheiro de aventuras. O fato é que ele se recuperou e ficou bastante tempo com a família na casa de campo que eles tinham em Gramado - RS.
 Diana em seu quarto, pensava em tudo isso, queria saber mais sobre o que tinha acontecido com Bruno. Um garoto tão determinado e forte, sempre alcançava seus objetivos. Passou por tantos momentos bons com o irmão Lucas, e perdê-lo realmente deve ter sido duro.
 Ainda eram três horas da tarde quando Diana acordou atordoada com o pesadelo... Olhou no relógio e viu que dava tempo de dar uma ligadinha para os pais de Bruno, quem sabe não fazia uma visita?

quarta-feira, 16 de março de 2011

(2)

      "Diga-me com quem andas e te direi quem és. Já dizia minha avó."
                                                                                        
                                                                             Diana Afonso



Reencontro

Na vasta sala do senhor Ricardo Alvarenga encontrava-se um piano branco, grande, pomposo, com as iniciais do mesmo na lateral do instrumento.

- Diana por favor, sente-se. Disse o professor Ricardo com aquele sotaque paulista carregado.

Logo de imediato sentei naquele banco estofado, com forro aveludado vermelho. Acomodei-me e estralei meus dedos, só para aquecer. Olhei em volta e não havia nada que me inspirasse naquela sala ampla... Existiam algumas peças de arte, quadros, tapeçarias; mas nada que me chamasse atenção. A aula de piano era um verdadeiro martírio para mim, já que minha paixão sempre fora o violão.
Passada uma hora e meia de aula, despedir-me do professor Ricardo e sai de seu casarão em direção à uma livraria perto dali. No caminho, percebi que há cada nova aula de piano, eu me sentia cada vez mais velha. Pois não era aquilo que eu queria aprender... Não me fascinava. Resolvi então que procuraria um professor de violão para me ensinar o que mais me atraia.
Já dentro da livraria, senti um conforto enorme. Não sei explicar, algo como se eu estivesse dentro de uma cápsula protetora. Dei um leve passeio entre as prateleiras as quais guardavam livros de filosofia, tentando achar um qualquer que falasse de Sócrates ou Schopenhauer. Não achei nenhum interessante. Frustrada voltei para casa.
Quando eu já estava bem perto da minha casa, lembrei do rapaz da noite passada. O qual não consigo me esquecer, não sei por que razão. Talvez seja pelo mistério. Olhei em volta e não vi ninguém me observando. Andei até o ponto em que ele estava sentado na madrugada em que o vi... Sentei no mesmo lugar e fiquei pensando: o que ele deveria estar fazendo aqui em plena madrugada? Não consegui a resposta.
Já se aproximava a hora do almoço e eu precisava voltar para minha casa, senão meus pais iam fazer um interrogatório...
Levantei, bati com as mãos no traseiro - para poder tirar alguma possível sujeira da calça - e ajeitei a mochila nas costas. Assim que dei o primeiro passo em direção à rua, uma mão pousa sobre meus ombros. Tentando não ficar nervosa, perguntei: Quem é? Não obtive resposta. A tensão estava presente em meu corpo, simplesmente não conseguia mover um só músculo meu. Perguntei de novo: Quem é? Desta vez uma voz respondeu-me: Vire e veja você mesma. Um calafrio tomou conta do meu corpo, por um momento pensei que  fosse ficar ali pelo resto da minha vida. Contudo em algum momento de coragem olhei para trás... Não acreditei no que vi.

Havia bastante tempo que eu não via o Alex. Fiquei espantada ao vê-lo tão pálido e magro. Um garoto que no primeiro ano do ensino médio estava bastante forte e bronzeado.

Ao me virar e constatar realmente que era o Alex, dei um sorriso largo e ao mesmo tempo tímido, tentando descobrir por que ele estaria ali naquele momento. Alex retribuiu o meu sorriso e veio em minha direção para um abraço.

- Que saudade de você Diana! Vejo que pintou o cabelo de vermelho, que mudança! Antes você não queria saber dessa cor, eu lembro. Todas as cocotas da escola queriam ser a "garota veneno", menos você.

- Pois é, realmente. Mas agora que a moda já passou, não custa nada mudar um pouco, não é verdade? (A timidez estava me matando, deixando-me falsa).

- É verdade, ficou bastante diferente, mas não estou dizendo que ficou feio ta? Disse ele com um ar irônico.

- Que isso, não ligo. Foi bom te encontrar Alex, mas agora eu preciso ir, pois meus pais me esperam para o almoço.

O meu amigo do primeiro ano do ensino médio exibiu um sorriso de canto de boca e assentiu.

- Até mais Diana! Bom rever você, se cuida.

Não me despedi, dei apenas um sorriso e segui o caminho de casa. Mal sabia que dali há poucos metros, outro rapaz me vigiava, decorando todos os meus passos, tirando fotos de todas as minhas poses e esperando o momento certo para abordar-me.

(1)

     "Uma unica vez tentei ser feliz. Por mais que fosse difícil, eu tinha a certeza de que iria conseguir. Infelizmente o destino me negou esse direito, tirando todas as esperanças que um ser humano poderia cultivar em sua juventude."
                                                                                                Diana Afonso



Incerteza


Era noite e estava muito escuro, nem o brilho da lua abrilhantava os céus. Todos dormiam e não se ouvia nada além do som da brisa gostosa da madrugada massageando as folhas das árvores. Deitada em minha cama, folheava um livro de romance; não romance explícito, mas algo mais científico, comentado por uma psicóloga. Lutando contra o sono, consegui terminar o terceiro capítulo do livro.
Decidi levantar para dar uma última olhada na rua antes de deitar-me. Ao me aproximar da janela, percebi que havia um rapaz sentado na calçada em frente à casa de um dos vizinhos. Tentei reconhecê-lo para tentar fazer algum tipo de contanto, aconselhá-lo a entrar. Infelizmente não consegui saber quem era aquele rapaz e acabei por desistir. Já eram quatro horas da madrugada e eu tinha aulas de piano às seis da manhã.
Cansada e com uma dor de cabeça horrível, olhei para o relógio e me dei conta de que estava atrasada demais para tomar banho, café e escovar os dentes. Precisava decidir fazer apenas duas coisas, para dar tempo de chegar na hora da aula de piano. Resolvi apenas tomar banho e jogar um anti céptico na boca.
Já trocando de roupa, olhei novamente para a janela em direção ao local o qual o rapaz se encontrara na madrugada passada... nada. Sem esperanças de vê-lo peguei a bolsa e sai em disparada.